Dom
Alberto Taveira Corrêa – Arcebispo de Belém do Pará
Somos uma imensa nação constituída pela fé em Jesus
Cristo morto e ressuscitado, homens e mulheres espalhados por todo o mundo,
convocados a testemunhar sua presença salvadora a todos, certos de que este
anúncio é portador de vida e de esperança. Nos anos de sua vida pública, o
Senhor Jesus semeou esta esperança nos muitos encontros com as pessoas, como
sinal da sua vitória sobre o pecado e a morte. Ninguém passou em vão ao seu
lado! Aos seus discípulos, mesmo quando tinham a visão obscurecida, o Senhor anunciou-lhes
o seu mistério de morte e ressurreição. E sua palavra se cumpriu: Jesus Cristo
ressuscitou, como havia dito!
No correr dos séculos, este anúncio chega às sucessivas
gerações através do testemunho. A averiguação científica, no sentido frio que a
caracteriza, não é suficiente para crer! Trata-se de uma moção da liberdade,
que traz consigo o risco, em que a pessoa aposta, antes de tudo, na honestidade
e na seriedade de quem diz "Jesus ressuscitou". É uma experiência
semelhante ao acreditar no amor dos outros. Pode-se fazer mil observações, mas
o passo decisivo será dado pela liberdade de quem se arrisca. Quem diz "Eu
creio" torna-se, por sua vez, anunciador da mesma verdade. E o resultado é
que, até o dia da volta do Senhor, no final dos tempos, a mesma força
transformadora da Ressurreição de Cristo se atualiza e produz seus frutos.
Queremos celebrar a Páscoa de Jesus Cristo mais uma
vez. Nas últimas semanas, a Igreja propôs um caminho de conversão que, de certa
maneira, antecipou o que se quer viver na Páscoa. É uma vida nova, na superação
do pecado e da maldade. Quem se reconhece frágil e pecador, diante do Senhor
Jesus Cristo, não teme aproximar-se do trono da graça, mas experimenta o
acolhimento da misericórdia e do perdão. Páscoa é a alegria da conversão a
Jesus Cristo!
Celebrar a Páscoa é deixar-se iluminar por Jesus
Cristo. Na Vigília Pascal, o Rito da Luz expressa tal disposição. A escuridão
da noite é vencida pelo fogo novo, sinal do Resuscitado: "Eis a luz de
Cristo!" Graças a Deus, porque a esperança se acende no coração de todos
os homens e mulheres. "Esta noite lava todo crime, liberta o pecador dos
seus grilhões; dissipa o ódio e dobra os poderosos, enche de luz e paz os
corações. Na graça desta noite o vosso povo acende um sacrifício de louvor;
acolhei, ó Pai santo, o fogo novo: não perde, ao dividir-se, o seu
fulgor". Assim proclama a Igreja na Páscoa.
Celebrar a Páscoa é fazer a memória dos feitos de Deus.
Por isso as celebrações pascais são abundantes na proclamação da Palavra do Senhor.
É costume passar algumas hora em oração - Vigília - de sábado para domingo, na
Páscoa, ouvindo os passos principais da história da salvação. Atualizam-se
palavras que iluminavam as celebrações pascais no Antigo Testamento:
"Quando vossos filhos vos perguntarem: ‘Que significa este rito?’
respondereis: ‘É o sacrifício da Páscoa do Senhor, que passou ao lado das casas
dos israelitas no Egito, quando feriu os egípcios e salvou as nossas casas’”
(Ex 12, 26-27). "Quando amanhã teu filho te perguntar: ‘Que significam
estes mandamentos, estas leis e estes decretos que o Senhor nosso Deus vos
prescreveu?’ então lhe responderás: ‘Nós éramos escravos do Faraó no Egito, e o
Senhor nos tirou do Egito com mão poderosa. O Senhor fez à nossa vista grandes
sinais e prodígios terríveis contra o Egito, contra o Faraó e contra toda a sua
casa. Ele nos tirou de lá para nos conduzir à terra que havia jurado dar a
nossos pais. O Senhor mandou que cumpríssemos todas essas leis e temêssemos o
Senhor nosso Deus, para que fôssemos sempre felizes, e ele nos conservasse
vivos, como o fez até hoje. Seremos justos se guardarmos estes mandamentos e os
observarmos diante do Senhor nosso Deus, como ele nos ordenou’" (Dt 6,
20-25). Páscoa é memória cheia de gratidão!
Celebrar a Páscoa é renovar a graça do Batismo. A
liturgia da Igreja é feita para louvar a Deus e santificar os fiéis. Todo o
caminho quaresmal percorrido pelos cristãos os conduz à noite pascal quando,
acompanhando os que nela são batizados, todos renunciam ao pecado e ao demônio
e professam a fé: Creio em Deus, Pai e Filho e Espírito Santo! Creio na Igreja,
na Ressurreição da Carne, na Remissão dos pecados, na Vida Eterna! Velas acesas
no Círio Pascal expressem a mesma vida recebida no dia do Batismo. Depois, a
mesma água, sinal da vida no Batismo, é aspergida sobre o povo de Deus reunido:
"Banhados em Cristo, somos uma nova criatura. As coisas antigas já se
passaram, somos nascidos de novo. Aleluia" (Canto da Liturgia Pascal).
Celebrar a Páscoa é participar da Ceia do Senhor, onde
o verdadeiro Cordeiro Pascal, Nosso Senhor Jesus Cristo, é dado em alimento na
Santa Eucaristia. Páscoa é Comunhão Pascal, vivida de forma profunda e
participada, deixando para trás os ressentimentos, ódios e rancores, abrindo-se
para que as marcas do pecado sejam superadas.
Celebrar a Páscoa é viver de forma diferente:
"Pelo batismo fomos sepultados com ele na morte, para que, como Cristo foi
ressuscitado dos mortos pela ação gloriosa do Pai, assim também nós vivamos uma
vida nova. Pois, se fomos, de certo modo, identificados a ele por uma morte
semelhante à sua, seremos semelhantes a ele também pela ressurreição. Sabemos
que o nosso homem velho foi crucificado com Cristo, para que seja destruído o
corpo sujeito ao pecado, de maneira a não mais servirmos ao pecado. Pois aquele
que morreu está livre do pecado. E, se já morremos com Cristo, cremos que
também viveremos com ele. Sabemos que Cristo, ressuscitado dos mortos, não
morre mais. A morte não tem mais poder sobre ele. Pois aquele que morreu, morreu
para o pecado, uma vez por todas, e aquele que vive, vive para Deus. Assim, vós
também, considerai-vos mortos para o pecado e vivos para Deus, no Cristo
Jesus" (Rm 6, 4-10). A palavra de São Paulo é um roteiro precioso para
viver a Páscoa! Celebremos, pois, a festa, com os pães ázimos da sinceridade e
da verdade! (Cf. 1 Cor 5,8)
Nossos votos de Páscoa cheguem a todos os irmãos e
irmãs, com o convite a nos tornarmos sinais de vida nova. Há muita gente que
espera o sinal de uma vida diferente da parte dos cristãos. Há um clamor pelo
testemunho mais ativo nas estruturas do mundo, no compromisso com os valores do
Evangelho, com a dignidade da vida humana e a verdade. Cabe-nos dar uma
resposta corajosa e alegre, para que o facho luminoso do aleluia pascal continue
a percorrer as estradas do mundo, através de nossa geração.
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