Arcebispo Metropolitano de Belém do Pará
A
Igreja de Jesus Cristo saiu literalmente à Praça Pública, no dia da canonização
de São João XXIII e São João Paulo II, dois papas de nossa geração, testemunhas
das muitas vicissitudes e alegrias do tempo desafiador e maravilhoso em que nos
encontramos. Quem acompanhou pessoalmente ou através dos meios de comunicação
pôde conferir a diversidade das culturas, línguas e povos ali representados.
Chamava atenção o fato de que chefes de Estado e de Governo compartilhavam
espaço e emoção com a multidão presente em Roma. As várias confissões cristãs,
representantes de outras religiões e pessoas de convicções diferentes, um mundo
inteiro se sentia atraído por duas figuras ímpares quanto à missão exercida a
seu tempo e quanto à têmpera de seu modo de ser homens e cristãos.
Papa Francisco salientou
em sua homilia da Missa da Festa da Divina Misericórdia que João XXIII e João
Paulo II não tiveram medo de se defrontar com as chagas do mundo e de sua
geração. João XXIII quis abrir as janelas da Igreja para que o sopro do
Espírito se espalhasse, a fim de alcançar todos os homens e mulheres. João
Paulo II, além de todo o empenho pela Evangelização, o missionário mais
ardoroso de que temos conhecimento nos últimos tempos, foi ao encontro das
pessoas, conversou com todos, não fugiu das situações mais dolorosas da Igreja
e do Mundo. É que os cristãos se encontram dentro das realidades do mundo, são
passíveis de erros e pecados, podem pôr tudo a perder, se não é a graça de Deus
que os acompanha e sustenta.
A chave que abre as portas
da esperança e da felicidade é justamente o reconhecimento simultâneo das
fragilidades humanas e da força de Deus. Aquele que pode abrir o livro da vida
das pessoas e da história humana é Jesus Cristo, o Cordeiro Imolado, o Santo de
Deus. Só Ele tira o pecado do mundo (Cf. Ap 5, 1-8). Com o Deus não nos fez
para amassar barro na maldade e no egoísmo, o desejo de ser puros e santos
atrai a todos. Por isso, apresentar a Boa Nova de Jesus Cristo, malgrado todos
os pecados do mundo, é a estrada mestra para todos, sem exceção. Cabe à Igreja
ter a ousadia de apontar para frente e para o alto, fazendo tudo para que o
maior número possível de pessoas se envolva nesta grande marcha rumo à
perfeição das relações das pessoas com Deus e entre si. Por isso tantos irmãos
e irmãs são inscritos no catálogo dos santos, reconhecidos como modelos no
seguimento de Jesus.
As imagens do dia da
Divina Misericórdia eram suficientemente eloquentes para nos convencermos de
que a Igreja tem uma palavra e um testemunho a oferecer ao mundo. Trata-se de
sua missão, na qual não pode se omitir. Ela deve ser anunciadora da verdade e lutar
pela dignidade das pessoas, assim como há de mostrar que o melhor para todos é
o amor ao próximo e o amor a Deus. Ao mostrar este caminho, que tem o nome de
santidade, a Igreja e os cristãos aprenderão a se confrontar com as realidades
humanas, inclusive quando as diferenças vêm à tona. E o diálogo entre
diferentes começa com a valorização recíproca, que comporta superação de
julgamentos e preconceitos. Acreditar no bem que existe no outro, seja qual for
sua origem, idade ou prática religiosa, é um passo fundamental. Convergem na
direção do bem as pessoas que apostam tudo nas próprias convicções e ao mesmo
tempo se abrem para o bem que existe em quem procede de outras plagas.
As pessoas com quem
dialogamos venham também a ter conhecimento de que temos algo a oferecer. Não
somos incapazes quanto à humanidade e a cultura. A luz do Evangelho é o que
existe de melhor para o mundo. Nada de omissão. Sejam, pois, superados os
eventuais complexos de inferioridade com os quais muitos cristãos se apresentam
diante das estruturas do mundo. Cresça a presença qualificada dos cristãos nos
diversos campos profissionais. Amadureça sua capacidade de dar razão da
esperança, segundo o caminho proposto pelo Apóstolo São Pedro: “Se tiverdes que sofrer por causa da
justiça, felizes de vós! Não tenhais medo de suas intimidações, nem vos deixeis
perturbar. Antes, declarai santo, em vossos corações, o Senhor Jesus Cristo e
estai sempre prontos a dar a razão da vossa esperança a todo aquele que a
pedir. Fazei-o, porém, com mansidão e respeito e com boa consciência (1 Pd
3,14-16).
A aventura da santidade se
tornou mais atraente ainda com São João XXIII e São João Paulo II. Mas o que
fazer para ser santo? Santo é quem olha ao seu redor e não se cansa de colher
as flores e os frutos da árvore da vida, plantada pelo próprio Deus. Santo é
quem não receia olhar nos olhos dos outros e ver o brilho que neles se acende.
Santo é quem não se rende diante da maldade, mas persevera na busca do bem e dá
nome ao bem que encontra. Santo é quem se convence de que Deus só sabe amar e
olha para as pessoas com amor infinito. Santo é quem gosta do bem, da beleza,
da verdade.
Nestes primeiros dias do
mês de maio, venha em relevo um campo específico, no qual a santidade pode e
deve crescer, o do trabalho. Ninguém separe sua vida de fé das suas atividades
profissionais, sejam quais forem. E vale oferecer, justamente para o trabalho,
dois outros sinais esplêndidos. Trata-se de Maria, Mãe do Redentor, uma simples
Mãe de Família, no mês que lhe é dedicado. Outro é São José, o operário! As
duas figuras, indispensáveis na vida cristã, foram mundo e Igreja, mãos que
trabalharam e santidade inigualável. Os dois santos, apenas canonizados, souberam
oferecer tais exemplos e deles foram devotos. É a hora da Igreja, é a hora do mundo, a quem
o Senhor Jesus oferece a salvação, pelos méritos de sua paixão, morte e
ressurreição. Ninguém desperdice o tempo de Deus, que se chama hoje!
Nenhum comentário:
Postar um comentário