A vida consagrada, como qualquer forma de vida cristã, é dinâmica por natureza e todos quantos são chamados pelo Espírito a abraçá-la precisam renovar-se constantemente no crescimento em direção à plena estatura do Corpo de Cristo (cfr. Ef 4, 13). Ela nasceu pelo impulso criativo do Espírito que moveu os fundadores e as fundadoras pela estrada do Evangelho, suscitando uma admirável variedade de carismas. Eles, disponíveis e dóceis à sua guia, seguiram a Cristo mais de perto, penetrando na sua intimidade e compartilhando-lhe plenamente a missão.
A sua experiência do Espírito pede ser não apenas
custodiada por quantos os seguiram, mas também aprofundada e desenvolvida.60 Também
hoje o Espírito Santo requer disponibilidade e docilidade à sua ação sempre
nova e criativa. Só ele pode manter constante o frescor e a autenticidade dos
inícios e, ao mesmo tempo, infundir a coragem do empreendimento e da inventiva
para responder aos sinais dos tempos.
É preciso, pois, deixar-se conduzir pelo Espírito
em direção a uma descoberta sempre mais renovada de Deus e da sua Palavra, a um
amor ardente por Ele e pela humanidade e a uma nova compreensão do carisma
dado. Trata-se de firmar-se sobre a espiritualidade, entendida no sentido mais
forte do termo, ou seja, a vida segundo o Espírito. A vida
consagrada hoje necessita sobretudo de um novo impulso espiritual, que ajude a
levar à concreção da vida o sentido evangélico e espiritual da consagração
batismal e da sua nova e especial consagração.
«Portanto, a vida espiritual deve ocupar o primeiro
lugar no programa das Famílias de vida consagrada, de tal modo que cada
Instituto e cada comunidade se apresentem como escolas de verdadeira
espiritualidade evangélica».61 Devemos deixar que o Espírito
abra com superabundância as fontes de água viva que brotam do Cristo. É o
Espírito quem nos faz reconhecer em Jesus de Nazaré o Senhor (cfr. 1
Cor 12, 3), que faz ouvir o chamado ao seu seguimento e nos identifica
com Ele: «Se alguém não tem o Espírito de Cristo, não pertence a Cristo» (Rm 8,
9). É Ele quem, fazendo-nos filhos no Filho, testemunha a paternidade de Deus,
faz-nos conscientes da nossa filiação e nos concede a audácia de chamá-lo «Abá,
ó Pai» (Rm 8, 15). É Ele quem infunde o amor e gera a comunhão. Em
definitiva, a vida consagrada exige uma renovada tensão à santidade que, na
simplicidade da vida de cada dia, tenha como escopo o radicalismo do sermão da
montanha,62 do amor exigente, vivido numa relação pessoal com o
Senhor, na vida de comunhão fraterna e no serviço a cada homem e a cada mulher.
Tal novidade interior, inteiramente animada pela força do Espírito e tendida em
direção ao Pai na busca do seu Reino, consentirá às pessoas consagradas partir
de Cristo e ser testemunhas do Seu amor.
O chamado a reencontrar as próprias raízes e as
próprias opções na espiritualidade abre caminhos ao futuro. Trata-se, em
primeiro lugar, de viver em plenitude a teologia dos conselhos
evangélicos a partir do modelo de vida trinitário, de acordo com os
ensinamentos de Vita consecrata,63 com uma nova
oportunidade de confrontar-se com as fontes dos próprios carismas e dos
próprios textos constitucionais, sempre abertos a novas e mais comprometedoras
interpretações. O sentido dinâmico da espiritualidade oferece a ocasião de
aprofundar, neste momento da vida da Igreja, uma espiritualidade mais eclesial
e comunitária, mais exigente e madura na recíproca ajuda para a consecução da
santidade e mais generosa nas opções apostólicas. Finalmente, uma
espiritualidade mais aberta a se tornar pedagogia e pastoral da
santidade dentro da vida consagrada e na sua irradiação em favor de
todo o Povo de Deus. O Espírito Santo é a alma e o animador da espiritualidade
cristã, por isso é necessário confiar-se à sua ação, que parte do íntimo dos
corações, manifesta-se na comunhão e dilata-se na missão.
Do Documento Partir de Cristo, UM RENOVADO
COMPROMISSO DA VIDA CONSAGRADA NO TERCEIRO MILÊNIO
Fonte: Comunidade Doce Mãe de Deus
Nenhum comentário:
Postar um comentário