Frei Patrício Sciadini
Não tenho receio em definir a mensagem para esta quaresma 2012 do Santo Padre o Papa
Bento XVI, uma das mais belas de todas as quaresmas, desde que o Papa começou a enviar uma mensagem especial.
Simples na linguagem, direta, que nos obriga não a uma leitura rápida, mas sim a uma leitura demorada, meditativa,
contemplativa, a voltar mais vezes ao
texto para perceber como atrás de
cada palavra o Papa quer nos acordar do nosso sono letárgico espiritual, que
ele chama “anestesia espiritual”. O coração da mensagem é tirado da Carta aos Hebreus 10,24: “Olhemos
uns pelos outros para estimularmos a caridade e as boas obras.”
Devo reconhecer que eu nem sabia deste texto e nem conhecia. A palavra de Deus
é de uma riqueza que não se esgota numa só leitura. Cada um a lê segundo o
momento particular que vive, pessoal ou comunitariamente, ou eclesial ou mundialmente. O olhar do Papa que conhece a
realidade do mundo e o momento de “crise” que passa, vê que
o ser humano está como “anestesiado” diante do outro. O outro não interessa, e um número que nos passa perto, uma fantasma e não uma pessoa amada,
parte de nós mesmos. Atenção ao
outro exige que se deseje para o outro
todo o bem.
A pessoa não pode ser feliz a pedaços, como pedras de mosaico, separadas
umas das outras, mas no seu conjunto: a felicidade, o bem e a globalidade da pessoa que se realiza no seu todo. Não há felicidade
quando falta o pão na mesa, o trabalho, os meios para curar-se das doenças,
o alimento cultural que gera desenvolvimento. É preciso uma revolução a partir de dentro de nós
mesmos, que nos coloque diante do outro
como nosso irmão e deseja para o outro o que nós desejamos para nós.
A Sagrada Escritura adverte contra o perigo de ter o
coração endurecido por uma espécie de «anestesia espiritual», que nos torna
cegos aos sofrimentos alheios. (n. 1)
Na verdade os sacerdotes levitas não maltratam quem tinha caído nas
mãos dos ladrões e estava meio morto à beira da estrada, nem o ofenderam, nem
tampouco cuspiram nele. Mas passaram e
viraram o olhar ao outro lado. É o pecado da indiferença que
está se tornando a cultura dominante
do mundo. Não dar
importância ao outro. A quaresma é o momento em que devemos nos acordar da anestesia, sentir
dor não só pelas nossas feridas, mas
também as dos outros. A vida cristã não é uma
filosofia e um discutir sobre os
problemas, mas sim ver, julgar e agir…
Sem ação direta não haverá mudanças de estruturas e de estilo de vida, nem compromisso social que leve o ser humano a uma vida mais
digna.
Fonte: Comunidade Pantokrotor
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